terça-feira, 25 de agosto de 2009

Tanque vazio


Viajando pela grande Nairobi há algumas semanas me parece que tanto preciso escrever sobre muito...Queria mesmo era relatar detalhe por detalhe , queria eu escrever o tamanho dessa cidade, ou pelo menos desenhar os enormes arranha-céus que muito me lembram Sao Paulo, a imensidao dos eus e voces que andam pelas calçadas, já apertadas por conta dos carros que preenchem cada espaço das avenidas. Queria tambem poder compartilhar com os demais ouvidos, o alto som das "HIP HOP musics" que escuto todos os dias quando entro em um Matato. Queria deixar claro que Matato é o meio de transporte mais utilizado em Nairobi e que ele varia em seu tamanho e preço, a depender do cobrador e da regiao, mas a febre do HIP HOP é comum a quase todos eles e em overdose de decibels. Queria mostrar ao vivo o sorriso que tenho estampado no rosto em algum momento todos os meus dias, ao ser surpreendida por algum queniano, seja mulher seja piá, seja crianca seja coroa, alguem sempre tem alguma historia de bondade, de carinho, de simpatia, de angustia, de camaradagem e ate de malandragem, no bom sentido brasileiro. Queria poder preparar um belo banquete, com os deliciosos pratos tipicos a base de milho, feijao e batata, que nao carecem de garfos para serem saboreados.Queria mesmo era saber falar o swahili, que é o dialeto oficial do Quenia e também da Tanzania. Queria corrigir o google quando ele diz que o idioma oficial é também o ingles. Tudo bem, é verdade que aqui todas as pessoas falam e dominam o Ingles, mas no dia a dia, o Ingles se resume a uma disciplina obrigatória nas escolas ou na comunicaçao com algum gringo, o que todos falam orgulhosamente é o Swahili. Ainda sobre línguas, queria eu penetrar nos mais diversos dialetos das mais diversas tribos que juntas caminham pelo centro da cidade, com suas histórias de vitórias, de sofrimentos, de lutas, de tradicoes e saudades.
E para aqueles que cruzaram próximas fronteiras para aqui estar, queria por eles poder gritar para o mundo a tristeza e a dor que sinto quando escuto suas histórias, como a de algumas amigas somalianas, que de tanto quererem bem a sua terra, de lá tiveram que sair a força, trazendo para cá a vontade de viver, a esperança de que tudo mude um dia e que, em um lugar onde nem a ONU consegue se fazer muito presente, a mobilizacao pela paz seja geral.
Queria fazer com que algumas pessoas que conheci sejam reconhecidas mundialmente pela sua nobreza, porque muito mais do que qualquer projeto ou premio internacional, só o que elas querem é ganhar uma vida melhor para suas comunidadedes. E nos grandes aglomerados urbanos, que fazem de Nairobi a capital com as maiores favelas do Sul da Africa, lá estao esses cidadaos, olhando por suas crianças, lutando por escolas, por hospitais, por eletricidade, por tudo o que eles sentiram na pele um dia precisar.
Queria poder chutar, quebrar, queimar qualquer estigma que as pessoas tem sobre a Africa ou pelo menos sobre esse cantinho de Africa que é o Quenia.
Queria tudo isso e mais um pouco, mas como sei que pouco tempo tenho para gastar na internet, resolvi querer falar apenas sobre o tanque vazio. Desde que cheguei aqui, todo o pais está sofrendo com com a falta de agua por conta da falta de chuva. Claro que nos bairros mais burgueses (nao me acuse, pois sou totalmente tendenciosa e pessoal em meu comentários e tenho plena consciencia disso) a água corre como se viesse direto da rebanceira. Mas nos outros bairros e principlamente nas favelas, agua tem sido coisa rara, motivo de festa quando saem direto das pias ou chuveiros, porque se nao a de se procurar um fonte em alguma visinhança afastada, encher os baldes e entao levar para casa. Mas foi só assim que eu percebi, como em uma cidade grande como essa, assim como em minha grande Curitiba ou qualquer outro grande centro urbano, o desperdicio esta em todos os cantos e parece inevitavel. Parece que todos os dias os carros precisam ser lavados, as calçadas tambem precisam estar impecáveis, as pessoas precisam lavar suas roupas todos os dias, tomar banho e puxar a descarga.... Puxar a descarga foi para mim a experiencia mais chocante. Quando estava me acostumando com a tarefa de rotina que é levar a água em um balde de um lado para outro,percebi que a mesma quantidade de agua que eu uso para tomar um banho e até lavar uma ou outra peça de roupa, é a mesma quantidade de água que preciso para encher o tanque vazio da privada, para limpar um mijo ou um cocozinho. E ai mobilizo todos os os 14 moradores da minha casa para que eles aguentem o odor nauseante do banheiro ao maximo para economizarmos o maximo de descaga possivel, e mesmo assim, eles ainda esquecem a torneira aberta nos dias em que se tem agua, água essa que vaza das bacias e seca ao sol...
Entao, nesses últimos dias, minha mente tem estado cheia de pensamentos e questionamentos sobre a agua, mas ao mesmo tempo parece um tanque vazio em termos de respostas ou soluçoes...